Caminhos para Exu celebra resistĂȘncia dos povos de terreiro no DF

Mais de uma centena de praticantes e simpatizantes das religiĂ”es de matriz africana se reuniram na tarde deste domingo (7), em BrasĂ­lia, para celebrar a fĂ© e a resistĂȘncia dos povos de terreiros e pedir o fim da intolerĂąncia religiosa.

O evento na capital federal recebeu o nome de Caminhos para Exu e foi inspirado na Marcha para Exu, que chegou Ă  terceira edição em SĂŁo Paulo e reuniu milhares de pessoas na Avenida Paulista no mĂȘs passado, tendo sido replicado em outras cidades. 

“Nosso principal objetivo Ă© mostrar que existimos; que estamos vivos”, explicou Ă  AgĂȘncia Brasil a cantora Kika Ribeiro, uma das idealizadoras do evento que tomou conta de um trecho da avenida W3 Sul, entre a Praça das AvĂłs, na 506 Sul, e a Biblioteca Demonstrativa Maria da Conceição Moreira Salles, apoiadora do projeto.

“Estamos dizendo nĂŁo Ă  intolerĂąncia religiosa, para que todos, independentemente de suas religiĂ”es, possam viver conforme sua fĂ©, seus credos, um respeitando o outro”, acrescentou Kika, antecipando a possibilidade da segunda edição do Caminhos para Exu acontecer ainda neste ano, em dezembro, conforme a resposta do pĂșblico.
 


BrasĂ­lia (DF), 07/09/2025 - Manifestação Exu, celebra resistĂȘncia dos povos de terreiros e pede o fim da intolerĂąncia religiosa. Foto: Bruno Peres/AgĂȘncia Brasil
BrasĂ­lia (DF), 07/09/2025 - Manifestação Exu, celebra resistĂȘncia dos povos de terreiros e pede o fim da intolerĂąncia religiosa. Foto: Bruno Peres/AgĂȘncia Brasil

Caminhos para Exu celebra resistĂȘncia dos povos de terreiro, em BrasĂ­lia – Bruno Peres/AgĂȘncia Brasil

JĂĄ a coordenadora cultural da Biblioteca Demonstrativa, Marina Mara, destacou que, alĂ©m de adeptos do candomblĂ©, umbanda, quimbanda, ifĂĄ e de outras religiĂ”es e manifestaçÔes de espiritualidade de influĂȘncia africana, o evento atraiu muitos simpatizantes e pessoas atraĂ­das pelos cĂąnticos e pelo toque dos atabaques, agogĂŽs e outros instrumentos.

“Isso Ă© Exu! É comunicação, comunhĂŁo, prosperidade”, frisou Marina, citando algumas das caracterĂ­sticas associadas ao orixĂĄ, considerado uma divindade fundamental nas religiĂ”es de matriz africana por, entre outras coisas, abrir os caminhos, servindo de mensageiro entre os planos humano e divino.

“DaĂ­, tambĂ©m, porque nĂłs, como uma biblioteca pĂșblica [vinculada ao MinistĂ©rio da Cultura] que tem, entre suas funçÔes, reunir todas as manifestaçÔes culturais e todo tipo de frente, estamos apoiando o evento”, disse Kika.

Ela explicou que, por ocasiĂŁo do marcha, a direção da biblioteca decidiu prorrogar, atĂ© 15 de setembro, a exposição Cartas Ă  Tereza, que homenageia a lĂ­der quilombola e sĂ­mbolo da resistĂȘncia negra no Brasil, Tereza de Benguela, e estĂĄ em cartaz na galeria da Biblioteca Demonstrativa. “QuerĂ­amos aproveitar a vinda do pĂșblico [da caminhada].”

A yalórisá (mãe de santo) Francys de Óya deixou o terreiro Kwe Oya Sogy, que ela coordena, em Samambaia, para prestigiar o encontro no coração de Brasília.

“O que me motivou a vir foi a força e o amor do povo [de terreiro] de querer mostrar a todos que nĂŁo somos do mal; que somos alegria, saĂșde, prosperidade – eixos centrais da vida”, disse Francys, comentando o fato das religiĂ”es de matriz africana serem alvo de preconceito e violĂȘncia.
 


BrasĂ­lia (DF), 07/09/2025 - Manifestação Exu, celebra resistĂȘncia dos povos de terreiros e pede o fim da intolerĂąncia religiosa. Foto: Bruno Peres/AgĂȘncia Brasil
BrasĂ­lia (DF), 07/09/2025 - Manifestação Exu, celebra resistĂȘncia dos povos de terreiros e pede o fim da intolerĂąncia religiosa. Foto: Bruno Peres/AgĂȘncia Brasil

Manifestação na capital foi inspirada na versĂŁo que ocorre hĂĄ trĂȘs anos em SĂŁo Paulo, a Marcha para Exu – Bruno Peres/AgĂȘncia Brasil

Dados

De acordo com o Censo de 2022, o nĂșmero de praticantes dessas manifestaçÔes religiosas chegou, em 2022, a 1% da população brasileira – um aumento de mais de 300% em comparação ao resultado de 2010.

Segundo os pesquisadores, o aumento Ă© fruto das polĂ­ticas pĂșblicas de enfrentamento Ă  intolerĂąncia religiosa. Ainda assim, dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos revelam que essas religiĂ”es e manifestaçÔes espirituais sĂŁo os alvos mais frequentes da intolerĂąncia religiosa.

“Este Caminhos para Exu Ă© justamente para desdemonizarmos nosso orixĂĄ. Para dizer a todos que, ao contrĂĄrio do que muitos dizem e pensam, Exu Ă© bom. É lindo. É amor. Basta olhar para esta festa, para este povo lindo”, concluiu a yalĂłrisĂĄ.


AGÊNCIA BRASIL