Mais de uma centena de praticantes e simpatizantes das religiĂ”es de matriz africana se reuniram na tarde deste domingo (7), em BrasĂlia, para celebrar a fĂ© e a resistĂȘncia dos povos de terreiros e pedir o fim da intolerĂąncia religiosa.
O evento na capital federal recebeu o nome de Caminhos para Exu e foi inspirado na Marcha para Exu, que chegou Ă terceira edição em SĂŁo Paulo e reuniu milhares de pessoas na Avenida Paulista no mĂȘs passado, tendo sido replicado em outras cidades.Â
âNosso principal objetivo Ă© mostrar que existimos; que estamos vivosâ, explicou Ă AgĂȘncia Brasil a cantora Kika Ribeiro, uma das idealizadoras do evento que tomou conta de um trecho da avenida W3 Sul, entre a Praça das AvĂłs, na 506 Sul, e a Biblioteca Demonstrativa Maria da Conceição Moreira Salles, apoiadora do projeto.
âEstamos dizendo nĂŁo Ă intolerĂąncia religiosa, para que todos, independentemente de suas religiĂ”es, possam viver conforme sua fĂ©, seus credos, um respeitando o outroâ, acrescentou Kika, antecipando a possibilidade da segunda edição do Caminhos para Exu acontecer ainda neste ano, em dezembro, conforme a resposta do pĂșblico.
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JĂĄ a coordenadora cultural da Biblioteca Demonstrativa, Marina Mara, destacou que, alĂ©m de adeptos do candomblĂ©, umbanda, quimbanda, ifĂĄ e de outras religiĂ”es e manifestaçÔes de espiritualidade de influĂȘncia africana, o evento atraiu muitos simpatizantes e pessoas atraĂdas pelos cĂąnticos e pelo toque dos atabaques, agogĂŽs e outros instrumentos.
âIsso Ă© Exu! Ă comunicação, comunhĂŁo, prosperidadeâ, frisou Marina, citando algumas das caracterĂsticas associadas ao orixĂĄ, considerado uma divindade fundamental nas religiĂ”es de matriz africana por, entre outras coisas, abrir os caminhos, servindo de mensageiro entre os planos humano e divino.
âDaĂ, tambĂ©m, porque nĂłs, como uma biblioteca pĂșblica [vinculada ao MinistĂ©rio da Cultura] que tem, entre suas funçÔes, reunir todas as manifestaçÔes culturais e todo tipo de frente, estamos apoiando o eventoâ, disse Kika.
Ela explicou que, por ocasiĂŁo do marcha, a direção da biblioteca decidiu prorrogar, atĂ© 15 de setembro, a exposição Cartas Ă Tereza, que homenageia a lĂder quilombola e sĂmbolo da resistĂȘncia negra no Brasil, Tereza de Benguela, e estĂĄ em cartaz na galeria da Biblioteca Demonstrativa. âQuerĂamos aproveitar a vinda do pĂșblico [da caminhada].â
A yalĂłrisĂĄ (mĂŁe de santo) Francys de Ăya deixou o terreiro Kwe Oya Sogy, que ela coordena, em Samambaia, para prestigiar o encontro no coração de BrasĂlia.
âO que me motivou a vir foi a força e o amor do povo [de terreiro] de querer mostrar a todos que nĂŁo somos do mal; que somos alegria, saĂșde, prosperidade â eixos centrais da vidaâ, disse Francys, comentando o fato das religiĂ”es de matriz africana serem alvo de preconceito e violĂȘncia.
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Dados
De acordo com o Censo de 2022, o nĂșmero de praticantes dessas manifestaçÔes religiosas chegou, em 2022, a 1% da população brasileira â um aumento de mais de 300% em comparação ao resultado de 2010.
Segundo os pesquisadores, o aumento Ă© fruto das polĂticas pĂșblicas de enfrentamento Ă intolerĂąncia religiosa. Ainda assim, dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos revelam que essas religiĂ”es e manifestaçÔes espirituais sĂŁo os alvos mais frequentes da intolerĂąncia religiosa.
âEste Caminhos para Exu Ă© justamente para desdemonizarmos nosso orixĂĄ. Para dizer a todos que, ao contrĂĄrio do que muitos dizem e pensam, Exu Ă© bom. Ă lindo. Ă amor. Basta olhar para esta festa, para este povo lindoâ, concluiu a yalĂłrisĂĄ.