O Congresso Nacional deu um prazo de 10 dias para o governo federal apresentar alguma alternativa ao decreto que elevou alĂquotas do Imposto sobre OperaçÔes Financeiras (IOF) que, segundo o governo, afetaria apenas as empresas e contribuintes mais ricos, e serviria para cumprir a meta fiscal.
Porém, as lideranças parlamentares alertaram ao governo sobre a possibilidade de derrubar a medida por meio de projetos de decreto legislativo (PDLs). O presidente da Cùmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), disse que hå uma insatisfação geral dos deputados com a proposta anunciada na semana passada.
âCombinamos que a equipe econĂŽmica tem 10 dias para apresentar um plano alternativo ao aumento do IOF. Algo que seja duradouro, consistente e que evite as gambiarras tributĂĄrias sĂł para aumentar a arrecadação, prejudicando o paĂsâ, disse Motta em uma rede social.
Na sessĂŁo do Senado dessa quarta-feira (28), o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (UniĂŁo-AP), disse que a decisĂŁo de elevar o IOF usurpa as prerrogativas do Legislativo, acrescentando a possibilidade do Congresso sustar o decreto.
âEsse exemplo do IOF, dado pelo governo federal, seja o Ășltimo daqueles, daquelas decisĂ”es tomadas pelo governo, tentando de certo modo usurpar as atribuiçÔes legislativas do Poder Legislativo. E, como presidente do Senado e do Congresso Nacional, eu vou defender todas as atribuiçÔes estabelecidas na Constituiçãoâ, afirmou no plenĂĄrio.
Para o cientista polĂtico Leonardo Barreto, Alcolumbre quis dizer que o governo tornou o IOF, de um imposto regulatĂłrio, em arrecadatĂłrio e, sendo arrecadatĂłrio, teria que passar pelo Legislativo. “Mas Ă© uma narrativa polĂtica, nĂŁo algo constitucional ou administrativo, nada disso”, pontuou.
O lĂder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), nĂŁo quis comentar as falas de Alcolumbre, mas disse que o governo estĂĄ estudando as propostas alternativas apresentadas tanto pela Federação de Bancos (Febraban), quanto pelos parlamentares.
ReuniĂŁo com Haddad
Após as sessÔes da Cùmara e Senado, Alcolumbre e Motta se reuniram na noite dessa quarta-feira (29) para discutir o assunto com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com a ministra das RelaçÔes Institucionais, GLeisi Hoffmann, acompanhados de lideranças do governo.
Na saĂda do encontro, Haddad informou aos jornalistas que explicou aos presidentes os problemas que o Estado brasileiro pode enfrentar caso o ajuste do IOF seja derrubado.
âExpliquei tambĂ©m as consequĂȘncias disso, em caso de nĂŁo aceitação da medida, o que acarretaria em termos de contingenciamento adicional. NĂłs ficaremos num patamar bastante limitado foi do ponto de vista do funcionamento da mĂĄquina pĂșblica do Estado brasileiroâ, disse o ministro.
O ministro lembrou que o governo jå teve que contingenciar ou bloquear R$ 31,3 bilhÔes do Orçamento para alcançar a meta fiscal estipulada pela regra do arcabouço fiscal. Jå as receitas de cerca de R$ 20 bilhÔes com as mudanças no IOF seriam para completar o ajuste orçamentårio.
Fernando Haddad acrescentou que os presidentes da CĂąmara e do Senado pediram a ele medidas de mĂ©dio e longo prazo mais estruturantes, âque mexessem com outros aspectos do orçamento, como gasto primĂĄrio, gasto tributĂĄrio. Essa agenda interessa ao governo tambĂ©mâ.
PorĂ©m, o ministro explicou que, no curto prazo, para 2025, medidas estruturas nĂŁo dĂŁo um resultado fiscal imediato. âTemos certa dificuldade em virtude do fato de que existem normas constitucionais que obrigam a observação de noventena e de anualidadeâ, completou.
Entenda
O arcabouço fiscal aprovado no inĂcio do governo, que substituiu o teto de gastos criado pelo governo de Michel Temer, obriga a UniĂŁo a cumprir uma meta fiscal que define os gastos que o Estado pode ter a cada ano. Para cumprir essa meta, o MinistĂ©rio da Fazenda anunciou um congelamento de R$ 31,3 bilhĂ”es para este ano.
AlĂ©m desse bloqueio, a Fazenda anunciou, somado a medidas para aumentar a receita via IOF com impacto fiscal positivo de cerca de R$ 20 bilhĂ”es neste ano. ApĂłs crĂticas dos bancos e do Congresso Nacional, parte das medidas foi revogada.
Segundo a Fazenda, mesmo com o aumento das novas alĂquotas do IOF anunciadas, elas estĂŁo em patamar inferior ao do governo anterior e atingiriam apenas os mais ricos e as empresas, sem afetar as pessoas fĂsicas.
âHavia muita discrepĂąncia entre tratamentos diferentes porque tinha uma brecha. A gente fechou as brechas. Se vocĂȘ considerar as alĂquotas praticadas ao longo de quatro anos do governo anterior, elas eram muito mais elevadas. EntĂŁo, nĂłs entendemos como um movimento correto fazer essa adequação de redução, mas corrigindo as distorçÔesâ, justificou Haddad ao anunciar as medidas.
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