O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou nesta quinta-feira (6), em BrasĂlia, mais um pedido do general Walter Braga Netto por mais tempo para se defender contra denĂșncia pelo crime de golpe de Estado.
O novo pedido foi feito na véspera, depois de Moraes ter negado o prazo em dobro solicitado pela defesa. O ministro negou reconsiderar sua decisão anterior e reiterou que o general tem até as 23h59 de sexta-feira (7) para se defender das acusaçÔes.
O magistrado enviou o novo pedido para manifestação da Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR), que deve se pronunciar em cinco dias. Em seguida, a defesa deve ter nova oportunidade para apresentar seus argumentos. O recurso poderĂĄ entĂŁo ser encaminhado para a Primeira Turma do Supremo, que deverĂĄ julgar se confirma a posição de Moraes.
O ministro aplicou ao caso o prazo previsto no regimento interno do Supremo, de 15 dias para a apresentação de defesa contra denĂșncia criminal. A defesa de Braga Netto, contudo, argumenta que a legislação penal e os precedentes da Corte recomendam a concessĂŁo do prazo em dobro.
Entre outros argumentos, a defesa alega nĂŁo haver tempo suficiente para se examinar as centenas de milhares de elementos de prova e documentos que serviram de base para a denĂșncia. Em um dos hard drives [discos rĂgidos] recebidos, por exemplo, haveria 390 gigabytes de dados e mais de 110 mil arquivos, apontaram os advogados.
Outro argumento Ă© o de que Braga Netto teria o direito de apresentar defesa somente depois do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que firmou acordo de delação premiada. Esse pedido tem como base o artigo 4 da Lei de Colaboração Premiada, segundo o qual o delatado deve ter o direito de se manifestar apĂłs o delator âem todas as fases do processoâ.
Na decisĂŁo desta quinta-feira, o ministro Alexandre de Moraes manteve sua posição de que ânĂŁo hĂĄ previsĂŁo legalâ para apresentação de defesa depois do delator, pois a garantia dada pela lei se aplicaria somente apĂłs eventual abertura de ação penal, ou seja, apĂłs a aceitação ou nĂŁo da denĂșncia.
Para os advogados, a interpretação restritiva do termo âprocessoâ, constante na lei, viola o princĂpio da ampla defesa e do contraditĂłrio. Eles apresentaram precedente do prĂłprio Moraes que, para a defesa, autorizaria a manifestação do acusado somente apĂłs o delator.
Acesso Ă s provas
Os advogados JosĂ© Luis Oliveira Lima e Rodrigo DallâAcqua tambĂ©m alegam nĂŁo terem acesso Ă Ăntegra das provas que embasaram a denĂșncia. Segundo eles, o material entregue a eles nĂŁo seria o mesmo remetido para a outra defesa, tendo mais de mil arquivos a menos.
A defesa tambĂ©m afirma que processos fĂsicos, ainda nĂŁo digitalizados, e que foram indicados pela PGR como subsĂdios para a denĂșncia, nĂŁo teriam sido disponibilizados.
Moraes voltou a rebater ponto a ponto a existĂȘncia de provas inacessĂveis, afirmando mais uma vez âque a Defesa de Walter Souza Braga Netto possui o amplo acesso aos elementos de prova documentados, inclusive aos elementos de prova mencionados na denĂșnciaâ.
DenĂșncia
Braga Netto foi denunciado no fim do mĂȘs passado pelo procurador-geral da RepĂșblica, Paulo Gonet, junto com o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 32 pessoas. Todos foram acusados de planejar e tentar executar um golpe de Estado e de abolir o Estado DemocrĂĄtico de Direito, entre outros crimes.
O general foi ministro da Casa Civil e da Defesa durante o governo Bolsonaro e, segundo Gonet, teve papel central na trama golpista, inclusive com o fornecimento de dinheiro em espécie para que o plano fosse executado.
O militar estĂĄ preso preventivamente desde dezembro do ano passado, por determinação de Moraes. Segundo a PolĂcia Federal (PF), o general da reserva e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022 teria tentado obstruir a investigação sobre a tentativa de golpe.Â
A PolĂcia Federal identificou que o general, indiciado por ser um dos principais articuladores do plano golpista, tentou obter dados sigilosos da delação de Mauro Cid. ApĂłs a prisĂŁo, a defesa negou que Braga Netto tenha obstruĂdo as investigaçÔes.
Saiba qual foi a participação de cada um dos 34 denunciados pela tentativa de golpe.  Â





